Na Escola E.B. 2,3 de Amares
António José Freire Torrado é o nome completo do poeta que nasceu em Lisboa em 1939. Licenciou-se em Filosofia pela Universidade de Coimbra. Dedicou-se à escrita desde muito novo, tendo começado a publicar aos 18 anos. A sua actividade profissional foi e é diversa: escritor, pedagogo, jornalista, editor, produtor e argumentista para televisão. Tem trabalhado em parceria com Maria Alberta Menéres em diversos livros e programas de televisão.
Actualmente, é Coordenador do Curso Anual de Expressão Poética e Narrativa no Centro de Arte Infantil da Fundação Calouste Gulbenkian. É o professor responsável pela disciplina de Escrita Dramatúrgica na Escola Superior de Teatro e Cinema. É dramaturgo residente na Companhia de Teatro Comuna em Lisboa.
Sendo consensualmente considerado um dos autores mais importantes na literatura infantil portuguesa, possui uma obra bastante extensa e diversificada, que integra textos de raiz popular e tradicional, mas também poesia e sobretudo contos. Reconhece a importância fundamental da literatura infantil enquanto veículo de mensagens, elegendo como valores a promover a liberdade de expressão e o respeito pela diferença.
António Torrado utiliza com frequência o humor em algumas das suas histórias. Por outro lado, em alguns textos de carácter alegórico ou de ambiente oriental, é o registo poético que predomina. De resto, os valores poéticos assumem para o autor uma posição central em qualquer projecto educativo.
Recentemente, começou também a trabalhar novelas e romances para a infância e juventude, mas a vertente mais marcada da sua actividade nos últimos tempos é, sem dúvida, o teatro.
Grande Notícia
Caiu da árvore, no princípio do Outono, uma folha de plátano. Isto não é notícia. Se um jornal publicasse a toda a largura da primeira página ou até numa das páginas interiores, na coluna reservada a desastres e acidentes, esta notícia, assim intitulada:FOLHA DE PLÁTANO CAIU DA ÁRVORE os leitores achariam que era uma maluquice de jornalista e, no dia seguinte, compravam outro jornal diferente. Mesmo que a notícia fosse assim: FOLHA DE PLÁTANO CAI DESPREVENIDAMENTE SOBRE UMA LAGARTIXA, QUE SE ASSUSTOU MUITO mesmo esta notícia, apesar do susto da lagartixa, não tinha sentido num jornal. E se ela se assustou! Estava descansadamente a apanhar sol e cai-lhe uma folha em cima. Claro que fugiu atarantada, tão atarantada que passou pelas patas do gato Maltês, que acordou sobressaltado e logo correu atrás dela. O cão Pimpão, que ia a passar, viu o gato a correr e foi atrás dele. Atrás do gato, o cão Pimpão atravessou a rua, no momento em que a carroça do senhor Cosme, puxada pela égua Linda, ia a passar. Espantou-se a égua, que levantou a toda a altura as patas dianteiras, a carroça desequilibrou-se, o senhor Cosme caiu, mas não se feriu, embora tivesse arrastado ao cair dois cestos com peras que trazia na carroça. As peras rolaram na estrada, e uma camioneta carregada com toros de madeira, que ia atrás da carroça, teve de travar de repente. Como os troncos estavam mal presos (o que é sempre um perigo!), como os troncos estavam mal presos, desabaram, com a sacudidela da camioneta, e caíram em grande confusão sobre a estrada, precisamente na altura em que uma camioneta de carreira ia a passar, em sentido contrário. Para não chocar com os toros, a camioneta, aliás o motorista da camioneta, guinou para a direita e foi embater num poste de electricidade, que caiu por pouca sorte em cima da linha do caminho-de-ferro, mesmo paralela à estrada, onde tudo isto se passou.Felizmente que a senhora Marília, da passagem de nível próxima, estava atenta e accionou logo o sinal de perigo, para que o comboio correio interrompesse a sua marcha... senão, senão tinha havido um grande desastre. Mesmo assim veio notícia no jornal TRÂNSITO FERROVIÁRIO INTERROMPIDO. Só que não disseram os jornais que tudo isto tinha acontecido por causa de uma folha caída de uma árvore e por culpa de uma lagartixa assustadiça... Só nós é que sabemos.
Grande Notícia, de António Torrado in "Conto contigo" Editora Civilização
OBRAS PUBLICADAS
Obras para a infância:
Poesia
Não se Chama Chama, Coimbra: Editora Vértice, 1984.Prosaicas, Porto: Afrontamento, 1985.Do Sabugo à Unha, Lisboa: & etc., 1993.
Ficção
De Vitor ao Xadrez, Lisboa: Livros Horizonte.O Almanaque Lacónico, Lisboa: O Jornal, 1991.Cinco Sentidos e Outros (contos), Lisboa: Civilização/Contexto, 1997.
Ensaio
Da Escola sem Sentido à Escola dos Sentidos, Porto: Afrontamento, 1988; 2ª ed., Civilização, 1994.Crescendo e Aparecendo (com Maria Alberta Menéres), Lisboa: Instituto de Apoio à Criança, 1988 .O Bosque Mínimo, Lisboa: Instituto de Apoio à Criança, 1990.
Teatro
Teatro do Silêncio, Lisboa: Sociedade Portuguesa de Autores, 1988.Conte Comigo, Lisboa: SPA/Dom Quixote, 1996.
Doze de Inglaterra seguido de O Guarda-Vento
PRÉMIOS ATRIBUÍDOS E HOMENAGENS
1988- Grande Prémio de Literatura Infantil Calouste Gulbenkian.